quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ele me trocou por outra...Parte II - Saber perder

O artigo anterior tratava da auto estima que, sem dúvidas, é uma das coisas que se perde quando um relacionamento acaba. Porém, há várias outras.

Em geral, não estamos acostumados a refletir sobre as causas dos sentimentos. Habituamo-nos somente senti-los, como se fossemos escravos das emoções. Isso porque vivemos em uma cultura que separa (equivocadamente)razão de emoção e oferece a esta última, autonomia para dirigir nossas ações. Trata-se do que os gregos denominaram "Pathos" e que foi traduzido por paixão. Essa palavra significa agir estando tomado por um sentimento e dá origem ao termo patologia. Esse conceito, de tão enraizado, faz parecer insensata,a idéia de governar os sentimentos mas, não é..

Quando o relacionamento acaba, devemos nos perguntar o que, de fato, perdemos com o final da relação. Quando atingimos clareza sobre isso, podemos desenvolver as reflexões necessárias para suprir ou tolerar a perda e, portanto, governar os sentimentos.

Mara, mulher de 40 anos, namorava um diretor da empresa na qual trabalha. Quando o relacionamento (praticamente um casamento) acabou, suas amigas tentavam-lhe em vão consolar mas, não havia argumentos ou bons conselhos que devolvessem-lhe a serenidade. O motivo da dor de perder era imperceptível a elas.
- Foram anos de relação! Já estava acostumada a passar os finais de semana com ele. Os filhos dele são como os que não tive. Sinto muito as falta dele. Estou enlouquecendo.

- Você mantém contato com ele no dia a dia da empresa?
- Muito pouco. Percebo que ele evita falar comigo ou mesmo passar perto de mim.
- E aquela promoção que você pleiteava?
- Nem lembrava mais disso! Eu fui promovida há duas semanas mas isso não importa mais! Pelo contrário, na verdade, sinto indiferença dos colegas quanto a isso. Não comentam, não parabenizam e, para falar a verdade, sinto-me até mesmo desvalorizada!

Mara perdeu várias coisas com o final do namoro, algumas mais ou menos claras: a convivência familiar com o ex e seus filhos, por exemplo. Mas, o que mais doía era a perda social e a posição de "mulher do chefe", perante os colegas. Muitos deles a excluíram das rodinhas de conversas e do happy hour na sexta feira.

Para ser sincero, não me senti à vontade para apontar, logo de cara, que em parte, seu sofrimento não vinha de amor frustrado mas, de status perdido. Não é admirável, socialmente, sofrer por questões como essa e, portanto, Mara não admitiria.


Então, a terapia foi conduzida no sentido de refletir sobre o valor das amizades, pois, afinal, quando ela perdeu o relacionamento ficou evidente que, o elo entre Mara e essas pessoas era a posição de "mulher do chefe".


- Não me lembro exatamente qual pensador disse esta frase, mas gosto muito dela: "descobrimos bons amigos quando com eles dividimos um punhado de sal" (acho que foi Cícero).

- Mas lá na empresa tenho a impressão que poucos se propõe a isso.
- Quanto vale o sofrimento por amizades assim? Perguntei, com ar de reflexão e, emendei:

- E você? Preocupa-se com o que eles acham de você? Por qual motivo você ficaria preocupada em receber aplausos de pessoas que você não aplaude? (Isso eu sei: vem de Sêneca). Além do mais, seus bons amigos o serão sempre!

Mara começou a subir no salto, como ela mesma disse e, passou a encarar os colegas com dignidade. Aquela mulher perdeu algo que não era tão óbvio: a posição social. As reflexões em terapia foram positivas mas ela nunca tomou ciência direta da razão de suas dores. Na verdade, ela reconquistou a posição: seu namorado atual é o presidente de uma empresa parceira da que trabalha. Caso a história se repita, o que é uma hipótese razoável, talvez ela esteja mais preparada para elaborar bons pensamentos e governar seus sentimentos.


Outra história...
-Minha vida acabou! Sinto um vazio desde quando terminamos! Disse Bruna.- Eu fico pensando em que momentos ele faz mais falta! Disse-lhe-- Mais à noite, quando chego em casa. Durante o trabalho me distraio e nem penso!- E quando chega em casa...como é?- Fico perdida! Sem saber o que fazer. Fico olhando para as paredes meio confusa.- E quando ele estava? Como era?- Sem graça! A gente discutia muito, eu não suportava! Que raiva!

Bruna perdeu algo que já não possuía: um bom casamento. O fato é que a convivência não era agradável havia muito tempo, mas ao terminar a relação, finalizou-se, também, uma rotina que conduziu a vida daquela mulher por anos . Bruna perdeu a referência. Seria um erro pensar que só nos acostumamos com o que nos faz bem. Essa mulher estava habituada àquela forma de viver e ficou sem chão. Pouco importava o marido e sua atual mulher. O que doía em Bruna eram duas coisas: a noção de tempo perdido e o desgoverno que sua vida tomou.


- Bruna, o que é um bom casamento? Aquele que dura 30 anos com muitos dissabores ou aquele que dura dois ou três com felicidade recíproca e intensa? Perguntei
- Pouco importa! O meu durou cinco anos e foram sem graça!
- Foram cinco anos sem graça mesmo?

Mara reflete por alguns instantes e força-se a responder sinceramente:

- Aconteceram bons momentos sim! Sofro porque eles acabaram.

- Eles não acabaram de uma vez! Foram aos poucos se esvaziando. Tão aos poucos que nos últimos meses já não existiam e, no fundo, você perdeu o que já não possuía. Você está só e não sabe ser feliz assim! Terá de aprender!
- Ser só, e feliz? Ninguém consegue
- Duas pessoas só deveriam se casar quando fossem capazes de viverem sós. É comum ouvir que a princesa quer um príncipe que a complete, mas se ela precisa ser completado é porque algo falta. Bons casamentos só acontecem quando nada falta em ambos !Quando ambos forem completos, se casarão por amor, caso contrário, será por fraqueza, ou por falta de alguma coisa, sei lá! As pessoas se casam por diversos possíveis motivos! De vez em quando um deles é amor!

Bruna entendeu o recado mas isso não é suficiente, é necessário desenvolver o hábito de ser boa companhia para si. Aprender a sair só para tomar um café, ir ao teatro, comer sozinha um bom menu em um bom restaurante (poucas pessoas fazem isso, em geral, quando estão sós, comem qualquer coisa em um balcão de padaria)

Esse conceito pode ser bem representado naquele ditado: ame-te primeiro, só assim será capaz de oferecer-te a outra pessoa e dela desfrutar ou, ainda, "está pronto para o amor aquele que souber degustar um bom pinot noir com a boa companhia de si mesmo". Este acabo de criar

Ele me trocou por outra...Parte III - Isso não é justo!
 

 

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