quarta-feira, 24 de julho de 2013

Gula....ou compulsão?

Comete o pecado da gula aquele que come demais. Por que "diabos", (com o perdão da má palavra) o pensamento cristão condenaria a comilança?
O excesso de comida relaciona-se com o prazer e, isso sim, é condenável ao juízo da Igreja. O cristianismo, ao menos o vigente na Idade Média, condenava o prazer e a satisfação das pessoas com coisas mundanas, entre elas, a comida.
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O Filósofo Epícuro, pouco antes do cristianismo, pregava em sua moral, entre outras coisas, a direção para o prazer sensível. Devemos comer e beber bem, diria mas, isso não significava extravagância e sim o desfrute, tanto de um pedaço de pão acompanhado de água, quanto um pernil de cordeiro harmonizado com um tempranillo de qualidade. Ou seja, o prazer de comer é essencial , de acordo com o pensador.
Concordo!

De fato, acredito que temos de usufruir das boas coisas da vida! Do ponto de vista psicológico, a gula pode indicar problemas reais mas, não da ordem condenada pela religião. O prazer é psicológicamente saudável mas a compulsão não!

Compulsão é a busca incessante por algo, no caso comida, a fim de preencher alguma carência que não é relacionada com esse algo. Em outras palavras, o compulsivo não come para saciar fome mas, para conter a ansiedade.

Acontecia isso com Verônica, que estudava para uma prova de concurso público que prestaria em algumas semanas. A bela jovem engodou cerca de dois quilos em pouco mais de seis semanas. A Gula, para ela, servia como um calmante altamente calórico.

A moça tinha, inicialmente, um problema: a prova. Mas, acabou criando mais um: o peso.

Disse a ela que dificilmente passaria naquela prova caso não mudasse a forma de encarar a responsabilidade. Ela foi instruída a focar a prova sem medos ou angústias, talvez, aceitando uma possível reprovação honesta (não cabe aqui explicar o motivos desta intervenção, quem desejar, escreva-me que explicarei porque, às vezes, devemos aceitar possíveis fracassos)

Isso abaixou a ansiedade e, certamente, foi um fator que facilitou a tranquilidade que lhe permitiu passar no exame.

Quanto ao peso, passados 04 meses do concurso, ainda não reduziu. Aos poucos emagrecerá, certamente!

Gula é Compulsão ou bom prazer?

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A humanização dos sete pecados capitais – soberba

Ele era um empresário muito bem sucedido mas envergonhava-se disso! Escondia sua boa condição financeira atrás de roupas baratas e um carro modesto. Elton acreditava que assumir sua fortuna humilharia as pessoas menos favorecidas.

- Fui educado assim! Dizia o homem de 46 anos. Meu pai ensinou que o trabalho enobrece e os humildes são os que mais trabalham!
- Como seu pai ganhava a vida?
- Era médico, clínico geral no município mineiro de Caxambu.
- Conheço essa cidade. É um lugar pacato e amistoso. Como ele era visto na comunidade?
- Ele era praticamente o único médico na região e muito valorizado pelas pessoas. Tinha tudo para ser arrogante mas dizia às pessoas que era pobre e que apenas se esforçava para fazer um bom trabalho.
- A humildade de seu pai era bem vinda à população e ele, certamente, não pecava pela soberba mas eu, particularmente, prezo mais pela simplicidade do que pela humildade.
 
Elton, confuso, parece tentar compreender o que acabei de dizer. O efeito das palavras, seus significados e implicações devem ser ricamente explorados em terapia.
Soberba é a pretensão de superioridade sobre as demais pessoas e carrega manifestações de arrogância, ou seja, o "soberbo" se acha. As pessoas simples não têm essa pretensão. Elas não querem ser mais do que são e, nem menos. Uma pessoa rica, inteligente, bonita será simples admitindo suas virtudes e vivendo simplesmente delas. Pessoas assim, assumem seus valores e não despejam arrogância, afinal, elas são simplesmente assim.

Um amigo, assim que terminou a palestra que acabara de proferir, ouviu de uma pessoa da platéia que ele foi arrogante enquanto falava. Meu amigo palestrante ouviu a crítica e refletiu por alguns instantes antes de responder:

- Obrigado pela sua opinião mas não sou arrogante! Ser arrogante, neste caso, seria achar que sei mais do que os outros mas eu, sinceramente, acredito que saiba mesmo.
Se meu amigo disse isso para se elevar, ele agiu com soberba mas, caso tenha dito porque acredita, de fato, que tem conteúdo mais elaborado que sua platéia, ele foi simples.

A humildade não é simples, ela nos inferioriza e nos coloca abaixo da realidade. Ser humilde pode ser virtude em determinadas ocasiões, apenas, mas esse é outro assunto...
Elton, em razão da humildade, perdia ótimas oportunidades de negócios. Sabotava a si mesmo para não aumentar sua conta bancária.
Aquele homem libertou-se do autopreconceito em relação à sua fortuna. Isso não o deixou mais rico mas, trouxe-lhe leveza de consciência e melhor desfrute da própria vida.
 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

A humanização dos sete pecados capitais – Inveja

A inveja, talvez, seja uma dos sentimentos mais comuns, afinal, invejar é desejar aquilo que o outro tem e ou ser aquilo que o outro é mas, não é só isso! Ela agrupa o desejo de que o outro não tenha mais aquele bem e ou adjetivação. Existe uma espécie de desejo de destruição na inveja. Por isso, ela é tão inconfessável.

Pode-se perceber que a inveja relaciona-se diretamente com a soberba na medida em que a posse de coisas ou títulos engrandece os detentores. Se eu tenho o melhor dos carros e, você também possui um, eu não me sinto grandiosos e fico frustrado. É necessário que apenas eu possua aquilo! Quando você possui e eu não, começa a inveja, ou seja, quero ter e quero que você não tenha.


Mulheres costumam ser invejosas!
- Que bolsa maravilhosa! Onde comprou? Quanto custou? (assim elas falam às "amigas")
... Queria eu ter comprado uma destas para mim, que raiva que ela tem e eu não! (é o que pensam secretamente).
O comentário "que bolsa maravilhosa" guarda em si, assumidamente, o desejo de possuir. "Onde comprou" é a pergunta complementar que nem sempre aguarda respostas tão fiéis e, ainda, prepara para a próxima pergunta: ‘quanto custou" que, esta sim, é maliciosa pois, mede a distância entre uma e outra mulher: se o preço for modesto, ameniza a inveja mas, se o custo da bolsa for algo acima das posses da segunda, instala-se a destrutividade invejosa.

Obviamente que a inveja não é exclusividade feminina mas, em razão dos formatos sociais que vivem as mulheres, é entre elas que se faz muito presente. Explico: as mulheres no século XXI são extremamente competitivas e, exatamente por essa razão ficam inseguras. Os estereótipos da mulher moderna são transmitidos de maneira sutil e sedutora: corpo magro e jovial, carreira de sucesso, boa esposa, mãe, amiga, aslém da bolsa, é claro... Elas precisam de muitas dessas coisas para estabelecer a paz com a autoestima.

Para aniquilar a inveja eu preciso não querer aquilo que o outro possui ou, quando não for possível abster-se do desejo, ficar feliz pelo semelhante possuir e desfrutar de seus bens para si. Difícil ficar feliz pela satisfação alheia?

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A humanização dos sete pecados capitais - A avareza.

Muitas pessoas não se dão conta de como os valores cristãos conduzem a sociedade (até mesmo em nações não cristãs). Os sete pecados foram criados pela igreja católica na idade média e serviam, no início, como regra de conduta.
Eram colocados em oposição às virtudes, por exemplo, a soberba, que é um vício (ou pecado) é o contrário da virtuosa humildade.
Desde então, começamos a valorizar as virtudes opostas aos pecados e, em conseqüência disso, sentir culpa quando não atingimos plenamente a conduta..
A proposta, com os sete artigos que virão, é discorrer sobre a maneira como os pecados podem se relacionar com problemas psicólogicos. Não se trata de uma visão religiosa mas, humanista.
A primeira provocação, não muito direta pois foi proposta muitos séculos antes do pecado ser inventado, foi feita pelo filósofo Aristóteles. "A virtude está no meio termo", dizia o grego. O que isso quer dizer?
Vejamos como isso se aplica, por exemplo, ao pecado da avareza, que significa apego excessivo às riquezas, mesquinhez, sovinice. Seu oposto é a liberalidade, na qual o indivíduo se desprende e esbanja seus recursos.
Concordemos que ambas condutas são condenáveis. Qual certo, então? O meio termo dizia o filósofo.
Devemos gastar, então metade dos nossos recursos?
Não é bem assim...
"bebida é água e comida é pasto’, como cantava Arnaldo Antunes, ratificando o estoicismo. Mas, Que mal pode existir em comer um bom pernil de cordeiro acompanhado de um Pinot Noir da Borgonha?
O poeta não está se referindo à gula mas à necessidade e à vontade que, obviamente, custará um preço.
Necessita-se de água mas, a vontade é de vinho. O avarento fica na insipidez da primeira enquanto o pródigo liberal sugará a bebida de Bacos. E o sábio?
Será visto, ás vezes bebendo vinho e outras matando a sede com água. Ele avaliará, sempre, se é sede ou vontade e quais suas condições de satisfazer a segunda. Ele não abrirá mão de seus prazeres quando forem cabíveis mas, deles privar-se-á, certamente, quando forem dispensáveis ou inatingíveis.
O avarento dificilmente sentirá culpa por sua mesquinhez, afinal, faz isso com um propósito nobre. O pecado é o exagero!
O pródigo, também acredita estar correto em sua gastança mas, quanto se percebe na escassez, efeito de suas desmedidas, sentir-se-á um tolo por não ter previsto e evitado sua miséria. Caso nada lhe falte, será um pródigo gastão sem culpa nem problemas existenciais.
Gastar mais do que o necessário e menos do que o exagero, ou seja, viver sim, com satisfação das vontades sem delas escravizar-se.
Eis o que penso sobre a justa medida.
Eis o que penso sobre o pecado da avareza!
 
 
 

sexta-feira, 8 de março de 2013

“Como voa para longe o tédio, quando o homem faz assédio!”

Hoje saio do formato original do blog para homenagear as mulheres mas, trata-se de uma homenagem sem bajulação e com sincero desejo de liberdade feminina

A frase que dá nome a este artigo é do rancoroso Friedrich Nietzsche

"Na vingança e no amor, a mulher é mais bárbara que o homem". Vingaram-se da opressão, mas talvez alguns valores mereçam novas perspectivas para que seja plena a conquista. Em 1886, quando Nietzsche propôs a reflexão acima, era ainda embrionário o processo de libertação feminina. Liberdade essa que custou um preço alto e que, às vezes, serve como vaidosa lamúria da mulher moderna. Qual delas deseja readquirir o direito à exclusividade do lar? A mulher acrescentou a seu currículo o trabalho e a competição. Compete com homens quando o assunto é profissão e consigo mesma quando a meta é atingir o padrão platônico de "super mulher".
A rotina da mulher do século XXI esconde, muitas vezes, um cerceamento de si. Uma espécie de prisão nefasta, auto sabotagem de seus desejos e valores.
Conseqüentemente, de sua felicidade. Liberdade de trabalho, liberação sexual e o direito de votar! Por tabela: escravidão a padrões esqueléticos e o papel de workaholic, doméstico ou não.
Os estereótipos no papel da mulher são transmitidos de maneira sutil e sedutora.
Corpo magro e jovial, carreira de sucesso, boa esposa, mãe, amiga, secretária (do marido)... Como atingir nota dez em todos os quesitos? Inevitável estresse!
Enquanto as mulheres gladiam-se por esses valores, os homens assistem passivamente ao processo de extinção da espécie "mulher feliz". Como ser feliz com tanta (auto) exigência?
Talvez a simplicidade seja uma virtude oportuna à mulher de hoje. Ser simplesmente o que é. Uma rosa é
simplesmente uma rosa e seu cheiro, simplesmente estupendo. E às mulheres, isso basta.
Eduardo Garcia

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Mulheres que amam demais

Comer demais... beber demais... brincar demais... estudar demais...
Qualquer excesso causa má impressão e leva a entender que quem exagera sofrerá algum tipo de conseqüência.
No entanto, não me parece que amar possa causar algum tipo de mal, pois, amar, entre diversas definições possíveis, envolve a idéia de desejar o bem do outro desinteressadamente e acima das próprias vontades. Qual seria o problema em querer demais que as pessoas que amamos fiquem bem?
O amor não pode fazer mal, mesmo em excesso! Então, por que algumas mulheres sofrem quando amam?
Anos atrás o tema foi exibido em uma novela de TV. Havia uma personagem maluca que sofria e maltratava o marido por ciúmes e insegurança e, a fim de parar com isso, buscava tratamento em um grupo terapêutico. Notem: a causa do sofrimento não era amor.
Não é o amor que move o sofrimento dessas mulheres mas a insegurança que, pode estar acompanhada de uma autoestima ruim, entre outros possíveis problemas.

Valéria contava sua angústia com choro sofrido e certo nível de consciência sobre seu problema:

-Eduardo, eu quero parar com isso mas não consigo! Não quero mais vasculhar o celular e e-mail dele.
Isso tem feito muito mal para mim!

- Ele nunca deu motivos... provavelmente você seria assim com qualquer companheiro... Aposto que em outros relacionamentos você se comportava assim também

Valéria consegue perceber sua insegurança e essa consciencia foi importante em seu tratamento. Ele entendeu que não amava demais, na verdade era insegura demais.

Além disso, linhas acima mencionei que o amor é desinteressado mas, isso é nobre demais para nós , pobres mortais! Quem realmente ama, sem querer absolutamente nada em troca? Nem que seja um reconhecimento, um elogio, uma companhia?

Há, ainda, outro aspecto que envolve o conceito de amor como um sentimento que nos anula em favor da pessoa amada. Quanto mais eu sofro cuidando de quem amo, mais nobre eu sou! Confuso? Olhem só: cuidar de um filho pequeno, obviamente, é algo trabalhoso. Se a criança for portadora de alguma necessidade especial, o trabalho é muito mais árido e a mãe recebe muito mais louvor do que as outras mulheres que não passam por essa dificuldade. O amor envolve esforço já em seu conceito.

-Eu faço tudo por ele...dizia Antonia. - Deixei meu trabalho, minha faculdade e minhas amizades para cuidar dele.
- Mas o que você espera que ele te ofereça?
- Nada! Só reconhecimento!
- Dizer que não espera nada faz parte dos estratagemas do amor, disse-lhe investido de minha autoridade profissional.

A partir dessas reflexões, deixo uma pergunta para pensarem:
Se uma amiga lhe disser que sofre porque ama demais, ela está fazendo uma auto crítica ou um auto elogio?