terça-feira, 29 de março de 2016

Conserve seu medo, para quê?



Quando o gênio Rau Seixas morreu eu estava por completar 14 anos de idade e, ouvir sua filosofia em forma de melodia poética é um dos meus maiores exercícios de reflexão mesmo após quase 30 anos... Estou ilustrando esse artigo com essa música de Raulzito exatamente por isso.

No entanto, o medo NÃO é tão útil quanto possa parecer. O próprio cantor diz: "conserve seu medo mas sempre ficando sem medo de nada!". Como?

O medo nos faz evitar perigos mas, nem tudo que pensamos ser arriscado de fato é e, portanto, deixamos de executar muitas coisas por essa razão. 

Reflitam:

Conserve seu medo de andar de bicicleta e deixe de se divertir, exercitar ou locomover;Conserve seu medo de dirigir e deixe de ir e vir;Conserve seu medo de assalto e deixe de sair para a rua (mantenha seu pânico);

Raul esclarece mais: "ande pra freante olhando pro lado". Agora ele está falando em PRUDÊNCIA. Esta sim nos protege!

Tenha prudência ao andar de bicicleta. Olhe para os lados, respeite as normas de trânsito, sinalize e faça-se visto ao pedalar.Dirija com prudência, respeitando a velocidade adequada, mantendo atenção na via e nos pedestres.Tenha prudência ao sair de casa. Evite lugares escuros e mal frequentados, olhe ao redor e mantenha a atenção no ambiente.

Em outras palavras: mantenha viva a paranóia, dizia Raul.

O medo é uma solução errada para nossa proteção. Costumamos cometer erros desse tipo encontrando soluções erradas para os problemas mas isso fica para a próxima


quinta-feira, 17 de março de 2016

Terapia para perder o medo... (de perder o medo)

Parece um paradoxo mas, existem pessoas que sentem medo de perder o medo!. Não é sobre medo de baratas, aranhas, avião ou qualquer outro que escrevo aqui mas, sobre o mecanismo inconsciente que percebo em parte das  pessoas que me procuram com o objetivo de aliviar medos e fobias

A fim de ilustrar o que acontece, partirei da premissa de que só se pode sentir medo de situações futuras. Não é possível sentir medo do que já aconteceu (passado) ou do que está acontecendo agora (presente) mas, do que pode vir a acontecer (futuro). Quem sente medo de aviões, por exemplo, não sente o tempo todo mas, quando a viagem de férias se aproxima. Nessa alternância entre o presente e o futuro  o inconsciente causa a falsa impressão de que o medo é uma proteção natural e instala o paradoxo.

Funciona assim:
João teme voar e procura terapia com o desejo eliminar o medo (presente)
Percebe que ao perder o medo entrará dentro de um avião  (futuro)
Sua mente entra em conflito porque fará algo (futuro) que sente medo (presente; a terapia ainda não resolveu o problema). João acredita inconscientemente que o medo é uma espécie de proteção e, portanto, é perigoso perde-lo (alternância entre presente e futuro).

Quando o paciente apresenta uma motivação maior que o medo esse problema fica diluído. Além de aumentar a motivação, o terapeuta pode fracionar o medo em pequenas partes e solucionar uma a uma. Da mais simples para a mais complexa, respeitando os recursos de superação que o paciente possui.

As pessoas acreditam que é bom sentir medo porque ele nos protege contra as situações perigosas. Eu digo que medo não é proteção. Explico no próximo. Até lá