segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Será que tenho TOC?

Já repararam que, em grande parte, as manias do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)  são comportamentos úteis e desejáveis? Lavar as mãos, verificar se a porta está trancada ou se o fogão não está aceso. Que mal há nisso? Por que classificar esses comportamentos como manias e diagnosticar o TOC? 

Não vou discorrer sobre as características do transtorno porque isso pode ser encontrado em diversos outros artigos. Também não mencionarei a neuroquímica envolvida porque isso não resolve os problemas daqueles que sofrem com o TOC. O que proponho é uma reflexão que possa servir como direção para pacientes e psicoteapeutas que se vêem diante do transtorno.


Sabe o que é um diagnóstico de comadre? É aquele que as pessoas fazem umas das outras sem critério: “fulano tem depressão”, “sicrano só pode ser bipolar”. Com o TOC não é diferente. As pessoas avaliam a repetição ou a estranheza do comportamento alheio (às vezes o próprio) e “encontram” o TOC. Cuidado com as comadres! Não se deve interpretar os males psíquicos com tal simplicidade. 


Ao invés de analisar as repetições ou atribuir diferentes graus de estranheza aos comportamentos sugiro que se busque compreender a motivação. Entre o normal e o patológico há limites e eles são os motivos. 


O medo é, indiscutivelmente, a maior motivação do Transtorno Obsessivo Compulsivo. Minha proposta é simples: descubra se o comportamento serve para aliviar alguma forma de medo.


Por medo de ficar doente pode-se lavar as mãos sem necessidade, estar sempre portando algum medicamento ou equipamento de aferição (termômetro, medidor de pressão), esquivar do assento no ônibus ou segurar maçanetas com um lenço para evitar algum contágio.


Há, também, os medos supersticiosos: usar, ou deixar de usar, uma determinada cor no vestuário. Tocar na madeira quando ouve algum tipo de profecia ruim, entre outros rituais.


Para aliviar a tensão causada pelo medo de ficar doente, de morrer, de passar mal, entre outros, o paciente desenvolve os rituais que tranqüilizam. 


Identificar o medo não é tarefa simples. Pessoas somam placas de carro ou fazem cálculos diversos sentem medo de quê? Os rituais aritméticos combatem as tensões porque distraem e tiram o foco do medo não identificado. Isso causa alivio mas, como a ansiedade não foi resolvida, os rituais são repetidos insistentemente. Um psicoterapeuta pode ajudar nesse ponto e propor a intervenção mais adequada caso a caso. 


Enfim, as manias (ou rituais) visam a proteger contra algum medo que pode, ou não, ser identificado pelo paciente. O tratamento, em qualquer linha terapêutica, deve ser direcionado para a solução do medo.


Surge um outro problema: o medo pode ser disfarçado em argumentos plausíveis. “lavo a mão por higiene, claro!  Visto primeiro o pé direito porque dá sorte! Verifico inúmeras vezes se fechei a porta por segurança! Freud chamava esse processo e racionalização. Trata-se de minimizar nossas angústias com argumentos racionais.


E agora? Como diferenciar o medo e a razão? Uma boa auto análise e psicoterapia, obviamente, podem ajudar bastante.


Estamos entrando em outro assunto que em breve escreverei aqui: ‘medo de perder o medo”. Parece contraditório mas, muitas pessoas que procuram terapia para perder medo, receia deixar de sentí-lo.  


Entre o normal e o patológico há um limite sim: a motivação.


Se ela for construtiva = normal

Se for o medo = TOC
  
                                                                                                        
O assunto não se esgota aqui, claro há diversas possibilidades de reflexão.