segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Remédios para a mente: será que preciso disso?


Dias depois de escrever esse texto li interessante reportagem na Folha de S. Paulo, vejam também:

Há muito tempo não via Célia, amiga de infância que os caprichos da vida trataram de afastar. Sua fisionomia aparentava cansaço. Os olhos fundos cravados na pele desbotada do rosto magro denunciavam que não atravessava bons momentos. Enquanto tomávamos café, conversávamos de diversas lembranças alegres do tempo que brincávamos com as outras crianças da rua e até mesmo as desavenças daquele tempo agora passadas a limpo com leveza e saudosismo. A certa altura a mulher comenta que, passava por crise em seu casamento e o medico receitou-lhe antidepressivos mas que ela, por sua própria conta, resolveu abandonar.

- Por que fez isso, Célia? Perguntei-lhe com curiosidade mas com certo grau de aprovação.
A moça, que era professora de  Língua Portuguesa e nutria um saboroso prazer em literatura responde:

- Notei que algo estranho e desagradável estava acontecendo: meus livros perderam sentido. Não havia mais emoções nos romances, ansiedade nos suspenses e nem mesmo humor nas comédias. Algo estava obviamente errado! Fiz minhas ponderações e conclui que os remédios para a mente estavam me privando dos meus sentimentos. Eu estava estressada, principalmente no trabalho mas o médico não fez nenhum diagnóstico. Ele recomendou o remédio e determinou nova consulta em um mês.  Minha mãe, também consultou um psiquiatra que lhe receitou antidepressivos para superar a morte de meu avô, falecido há dois meses mas, não é normal sentir tristeza em situações como essa?
- Os remédios atuam no seu sistema nervoso central para evitar os sentimentos ruins mas, eles não sabem diferenciar com precisão quais sentimentos são esses e acabam "anestesiando" todos, inclusive os que você deseja sentir. Aliás, respondendo sua pergunta, acho normal sentir tristeza com a morte de alguém querido. Na minha opinião seria injusto com seu avô evitar a tristeza.
Disse-lhe ainda:
- Como psicólogo acredito que nossos sentimentos, sejam bons ou ruins, servem para nos ensinar coisas sobre a vida. Tristeza, ansiedade e medo servem para nos apontar obstáculos e nossa tarefa é encontrar formas de superá-los.
-  Eu me sentia  uma vítima da psiquiatria! Fiz bem em jogar os remédios no lixo?
- Cara Célia, seus livros voltaram a trazer emoções?  Conclua você mesma.
Dona Elza, mãe de Célia, resolveu abandonar a caixinha tarja preta, como fez a filha, e  veio consultar-me para superar a viuvez. Está praticamente de alta, aliás, enamorada de um senhor que conheceu na fila do supermercado.
Meses atrás acreditava que sua vida fora enterrada junto com o companheiro falecido e hoje vê novas possibilidades de vida feliz.

Observação: Não é recomendável abandonar os remédios  sem orientação médica como fez Célia. Ela não teve problemas porque seu organismo reagiu bem mas, há pessoas que sofrem abstinência. Um bom  medico saberá distinguir quando a medicação se faz necessária e quando não. Aliás, esse é o título desta postagem.